Não sou um Marxista convicto, minhas opiniões, na maioria do tempo, são as mais contraditórias possíveis, mas convenhamos o modelo produtivo capitalista atual é imperialista e fadada ao colapso, ou ao menos poderá ter longa vida ao custo da manutenção de um uma massa de famintos. A lógica é simples, contudo não seguirei pela lógica seguirei pelos fatos, que antecedem a lógica. Abra o caderno de economia do seu jornal favorito, uma nostálgica surpresa, a inflação cresce, renasce das cinzas de um temido passado econômico. A CNI (Conselho Nacional da Indústria) ajustou o índice de crescimento de 5% e alguma coisa para 4% e outra coisa, enquanto que o índice de inflação sobe de 4% e alguma coisa para 6% e alguma coisa, fora o grupo de consumo de energia, todos os outros sofreram algum nível de inflação superior ao período imediatamente anterior da análise. Dispensarei a referencia de fontes, vamos lá, peguem qualquer cadernos de economia desta semana! Notem que o grupo alimentar é onde residem as maiores pressões inflacionárias, a resposta do governo é simples, “Uma crise mundial de abastecimento de alimentos”, a resposta do mundo é mais simples ainda “São os Biocombustíveis”...
De certa forma não deixa de ser verdade que os biocombustíveis gerem uma pressão adicional na mecânica de oferta e procura dos alimentos, a lógica é simples, nos EUA grande parte da produção de milho esta sendo destinada para a produção de álcool, a fronteira agrícola destinada ao cultivo da cana de açúcar no Brasil cresce cada dia mais, enquanto as áreas destinadas ao consumo alimentício sofrem constante pressão da expansão da produção de cana e da crescente especulação imobiliária sobre as terras. Como já percebia David Ricardo a alguns séculos o alimento esta na base da estrutura econômica, esteja você no século XVII ou no maravilhoso século XXI, o custo sobre a terra aumenta o custo produtivo do alimento a margem de produtividade do alimento chega ao seu máximo quando somos obrigados a expandir o cultivos para áreas de baixa produtividade no solo, e o custo da terra sobe proporcionalmente com a demanda por terras cultiváveis. A crescente produção de alimentos para o abastecimento de máquinas concorre diretamente com o Homem, a carne encarece com o aumento de seu insumo principal, a ração. Não bastando temos ainda o petróleo, seus históricos preços atingem diretamente a cadeia logística de distribuição de alimentos, sim mais pressão sobre o custo dos alimentos, e não bastando ainda, todos esses alimentos são negociados em bolsas de mercados futuros onde encontramos quem!? O Especulador que depois de ter ganhado dinheiro especulando sobre o preço do petróleo, da terra ainda embolsa uma boa graninha especulando sobre o preço futuro da saca de arroz! Mas não acredito que os biocombustiveis são os vilões, seria como dizer que o especulador é o vilão, ou o clima da terra (que também gera pressão sobre a produtividade de alimentos). Para mim o verdadeiro vilão é o progresso!
O capitalismo mundial por mais de 4 décadas viveu sob a lógica onde alguns poucos países gozam das maravilhas da prosperidade enquanto outros sobrevivem. Este capitalismo é imperialista no sentido de se sustentar apenas sob esta lógica bipolar de explorador e explorado. Contudo a partir do meio da década de 90 os índices de crescimento dos chamados países subdesenvolvidos acentuou-se, ultrapassou os aglomerados desenvolvidos e a renda das populações dos aglomerados subdesenvolvidos aumentou! Isso é bom, sim, menos pessoas passando fome, maior qualidade de vida, tudo é muito bom, no entanto nosso modelo produtivo capitalista não foi feito para sustentar isso. A realidade é que com o aumento da renda de uma massa gigantesca de pessoas que a pouco passavam por condições de subnutrição (estamos falando de África, America Latina e Ásia, é muita gente!), a elasticidade da demanda sensível a este aumento de renda sobre o grupo de produtos alimentar mostrou sua força para o mundo. Uma demanda desproporcional atingiu em cheio o mercado de alimentos, as matérias primas encareceram, o combustível, tudo! O resultado disso é ações como a da Argentina que barrou suas exportações de trigo ou do Vietnã com seu arroz, a realidade é que a nosso cadeia de produção não foi feita para que nem a metade dos 6,5 bilhões de pessoas que caminham por este planeta vivam bem, o capitalismo é para uma elite, não uma elite social especificamente mas uma elite de países, quanto mais este modelo é democratizado mais o próprio capitalismo se autodestrói e destrói seu próprio meio. O mundo não suporta prosperar dentro deste modelo, nossos sistemas produtivos são sensíveis e nossa margem produtiva não suporta demanda tão crescente. Quanto mais democratizamos a prosperidade mais nos autodestruímos.
Não sou um profeta do apocalipse, e tão pouco um anti-capitalista, acho o capitalismo um sistema produtivo fantástico, contudo vejo que o mundo precisa se voltar para uma nova educação cultural. O modelo cultural baseado em símbolos de consumo não pode continuar, a cultura tem que ser a arma para a criação de uma geração de novos consumidores fundamentados em necessidades autenticamente utilitárias e valores sustentáveis. É impressionante como banalizamos o consumo de alimentos, de papel, do plástico, da água, etc. Acredito em um modelo capitalista sustentável, fundamentado na sustentabilidade regional como força antagônica aos meios de produção e distribuição globais. Não dispenso os grupos transnacionais, muito pelo contrário, oferecem importante escala e produtividade, contudo a produção regional permite a geração de renda localizada, e a sustentabilidade da cadeia de produção. Ao aproximarmos produtor e consumidor reduzimos as energias gasta com transporte, empacotamento, embalagens, etc, etc, etc... simplificamos a produção, distribuição e consumo, caracterizamos culturalmente um produto, fortalecemos a identidade e a renda regional. Acredito até mesmo que os próprios grupos transnacionais poderiam ter importante participação nesta idéia ao utilizarem a capacidade produtiva regional dentro de sua cadeia de produção. O capitalismo precisa de nossa ajuda, isto é fato, a democratização da prosperidade dentro deste modelo é inviável, e a cultura é a nossa grande arma para a mudança dos valores atualmente vigentes, pensemos a respeito disto.
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